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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Genética

Trabalho na 'Nature' é o primeiro que desvenda a quase totalidade do ADN de alguém falecido há muito.







Chamaram-lhe Inuk, que significa ser humano na actual língua da Gronelândia. Inuk, que era moreno, tinha olhos castanhos e tendência para a calvície, foi um dos primeiros povoadores daquela região, há mais de quatro mil anos, mas agora regressou dos mortos para contar uma história de pioneirismo e de migrações milenares, graças à genética. Bastou um tufo de cabelos que estava num museu. A partir dele foi possível reconstituir pela primeira vez o genoma quase completo de uma pessoa morta há muito. Esta é também a história de um feito pioneiro da ciência.

O trabalho, publicado hoje na revista Nature, foi realizado por um grupo de investigadores coordenado pelo especialista em genética Eske Willerslev, da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, e permitiu sequenciar pela primeira vez 80% do genoma nuclear (a informação genética contida no núcleo da célula) de um ser humano morto há muito. "Até agora, nenhum genoma de um ser humano do passado tinha sido publicado", diz a equipa no seu artigo, referindo que os únicos elementos disponíveis deste tipo eram "alguns milhares de pares de bases do ADN de um neandertal", ou seja, uma porção ínfima da sua informação genética.

No caso de Inuk, os investigadores conseguiram decifrar o astronómico número de três mil milhões de pares de bases (blocos químicos mais elementares) do seu ADN. Para esse êxito, explicaram os investigadores, contou também "o estado de excelente conservação do ADN" devido ao permafrost (solo gelado) no qual se manteve preservado.

Esta não é a primeira vez que o investigador Eske Willerslev se distingue nesta área. Há apenas um ano, foi também ele que coordenou a equipa que reconstruiu o genoma mitocondrial (presente numa estrutura celular chamada mitocondrial) completo de um mamute.

Quanto a Inuk, a sua informação genética mostra que ele tinha o grupo sanguíneo A positivo e que pertenceu ao primeiro povo povoador da Gronelândia, os saqqaq, que migraram para aquelas paragens há cerca de seis mil anos, vindos da Sibéria. Ainda é com os actuais povos siberianos que Inuk mais se parece, e não com os actuais esquimós.

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